Nossa viagem acabou e estamos a caminho de casa, mas ainda temos muita coisa pra contar. Portanto:
16 a 18 de Janeiro de 2014
– Ô Camila, escreve aí sobre a noite sueca.
– Uai, vou ter que escrever sobre tudinho da Suécia? Sacanagem, sô.
– Não sua besta, é só sobre a noite.
– Mas na Suécia são apenas 5 horas de dia!
-…
Chegamos em Estocolmo destruídos. Depois de passar a madrugada tentando dormir desconfortavelmente num banco congelado na estação de trem em Malmö e nosso trem atrasar uma hora, o Lorenzo nos recebeu com um apartamento aconchegante e um sofá mais que atraente.
Recebemos do nosso couchsurfer todas as dicas de passeio e incentivou que largássemos o cansaço de lado e explorássemos a cidade enquanto o corajoso engenheiro sairia pra correr. Duas horas depois estávamos de volta em casa pedindo trégua.
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Depois de levantar a bandeirinha da paz para aquela guerra entre o sono e a vontade de sair, acordamos com nosso host em uma nova profissão: cozinheiro. Meu Deus, existe algum italiano que cozinha mal?! Lorenzo fazia um risoto digno de restaurante 5 estrelas enquanto contava um pouco da vida em Estocolmo, Itália e de como virou jogador de vôlei profissional – afinal, o que esse host não sabia fazer?
Todo mundo alimentado, vamos fazer um esquenta pra encontrar os amigos do Lorenzo… este que também já foi bartender e estava apaixonado com o cheiro de fruta da Seleta que demos de presente pra ele nos preparou uns drinks com a cachaça e quando já havia acabado os ingredientes, partimos para doses puras.
Gui arregou e ficou em casa. Portanto Neto, eu e Lorenzo fomos para um lugar maravilhosamente chamado “Pet Sounds Bar” – impossível imaginar que um bar com esse nome pode ser ruim! – onde havia música boa, cerveja barata e a ótima companhia do Carlo, que é da Alemanha e uma garota que ele conheceu no dia, vinda da Bélgica.
Falamos sobre a Copa do Mundo, na qual o Carlo vai para o Brasil ver o jogos e ensinávamos truques para fugir dos preços abusivos cobrados aos turistas no Rio, enquanto a Madame Tomorrowland me contava como era a maior rave do mundo e nos surpreendia com o fato de falar 5 línguas fluentemente.
– Carlo, você deveria ir a Ouro Preto.
– Que Ouro Preto o quê, Camila, vá para Diamantina, Carlo!
– É a cidade favorita dele…
– Lá tem o boteco mais legal no mundo, todas as paredes são repletas de garrafa de cachaça! Por falar nisso…
Algumas doses depois o bar fecha e seguimos pra casa, o dia seguinte seria corrido e precisávamos de energia.
Na tarde seguinte, após passeios e encontrar a Vitória e a Claudinha, já planejávamos uma baladinha, embora nossa atenção era sempre desviada por algum pedestre gato que passasse por nós.
– Olha, quero voltar pro Brasil não, como vou voltar a viver uma vida normal depois de ver tanta gente bonita assim? Sério, desacostumei com feiúra.
– Ih menina, os homens e as mulheres aqui são tudo Barbie e Ken, parecem até ter saído de contos de fada!
No jantar da noite, nosso cozinheiro italiano fazia um frango ao molho curry e comíamos arroz branco pela primeira vez em toda a viagem, que satisfação e que saudade da comida da minha mãe.
Mais um esquenta e acabamos com a Seleta que haviamos presenteado, mas tudo bem, Neto já tirava outra da mala e seguíamos aquecidos para um bar gatíssimo chamado Enkelt.
O Enkelt é aquele lugar que se eu morasse em Estocolmo viraria cliente fiel: músicas favoritas na playlist, decoração moderninha, porão, vários livros e muita gente bonita. Não dava pra ficar sentados apenas observando o movimento. Entre uma ida ao balcão para buscar cerveja e um suspiro a cada Ken Príncipe Encantado que eu via nas mesas, dava pra perceber que os suecos são muito diferentes.
Povo alegre, sorridente e muito mais aberto que os dinamarqueses, logo as pessoas das mesas conversavam com os outros, batiam palmas e davam gargalhadas enquanto mostrávamos para o Gui o famoso Snaps.
Dali seguimos para o Anchor, uma balada Rock’n’Roll para encontrar a Vitória, o Luis Fernando e a Claudinha. Noite de Hard Rock, cheio de suecos cabeludos que fariam inveja em qualquer Capa Preta da Avenida Sanitária, eu e o Lorenzo já não contínhamos as risadas ao ver um sueco de 3 metros de altura e largura que toda hora passava tentando se aproximar de uma de nós enquanto todas fugíamos quando ele aparecia.
Numa já tradicional piadinha interna entre eu, Gui e o Neto de falar português com sotaque italiano para zoar a galera, zoamos o cara errado. Assim conhecemos um Chileno que havia morado a 15 minutos da cidade do Lorenzo e então aquele caldeirão étnico estava instalado.
Fim de noite um bêbado aleatório entrega a chave do carro para a Vitória e pede para levá-lo em casa. Realmente, somos confiáveis na Suécia.
Último dia em Estocolmo, enquanto os garotos descansavam em casa, Kenneth – um sueco amigo de uma amiga – se prontificou a mostrar o melhor daquela cidade (ainda tinha mais?).
Durante um breve passeio pelo centro velho de Estocolmo, paramos para almoçar no Gondolen, naquilo que seja talvez o marco gourmet daquela cidade. A estrutura do Gondolen é um espetáculo à parte: em cima do ponto mais alto de Estocolmo, o restaurante tem formato de ponte, sendo necessário um elevador equivalente a 8 andares para nos levar. Era tanto requinte que a plebeia sul americana estava perdida entre o que escolher no cardápio e qual garfo e taça usar.
Para não ter erro, tudo o que o Kenneth pedia eu só falava para a moça: “The same for me, please” e R-E-Z-A-N-D-O para que meu guia não tivesse um paladar excêntrico. De entrada, vinho, e uma tábua de degustação de salames de diferentes nacionalidades e animais – não quis nem saber quais eram para não correr o risco de pegar mal na mesa, afinal tava ali fazendo a phyna, PORQUE EU SOU RHYCAAAA, EU SOU RHYCAAAA!
Em seguida uma carne mais que suculenta, uma sobremesa impecável e um papo divertidíssimo, embora eu deveria parecer uma pessoa com distúrbio de atenção, pois meus olhos não desgrudavam do pôr-do-sol fascinante de cima daquele lugar com visão 360° da cidade.
Por fim, logo quando achava que havia acabado meu maravilhoso passeio, seguimos para o Öch Himlen Därtill Skybar, ou apenas “Himlen” – que significa “paraíso” em Sueco – um lounge de vidro, no 46° andar de um prédio. Assim que cheguei fui recepcionada com uma Caipirinha maravilhosa…
… é, eu estava no paraíso. Me joguei no sofá que dividi confortavelmente com outras 8 pessoas desconhecidas e entre uma caipirinha e outra eu explicava a todos sobre como descobrir se uma cachaça é boa ou ruim. No fim, já era amiga de geral e conversávamos empolgadamente sobre bandas suecas, show do Sigur Rós e o amor deles pelo Jorge Ben.
Voltei para casa tão radiante que imagino que era capaz de iluminar até a noite mais escura com meu sorriso de orelha a orelha. Sim, eu tive um dia de princesa e aquele país se tornou meu Príncipe Encantado.