Kiruna, 20 e 21 de Janeiro.
Pouco tempo depois, após os olhos acostumarem com a escuridão eis que aquela nuvem explode em uma cor verde maravilhosa! Era a Aurora! Meu Deus, era ela aparecendo tímida no céu, graciosa! Eu não parava de gritar “oh my god” (em inglês mesmo, para a Tania entender), o Gui berrava o mais alto que seu pulmão permitia e o Neto sorrindo… Pausa para fotos, temos que registrar isso! Meu Deus, aquilo era maravilhoso…
… para nosso susto, o Neto afunda em um monte de neve – no qual eu achei que fosse água – que mais parecia areia movediça e quase queimou sua pele. Ajudamos a retirá-lo de lá e vamos seguir viagem! Nossa namoradinha estava fraca e começava a desaparecer… será se ela voltaria? Vamos mais ao norte, vamos até a Noruega se precisar, tínhamos que vê-la novamente!
Enquanto aproximávamos de Abisko era visível a diferença na natureza: muitos rios congelados, enormes e maravilhosas montanhas, bem diferente da plana Dinamarca e Suécia que conhecíamos.
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A cada 10 ou 20km parávamos para observar e tirar mais fotos, a emoção e empolgação tomava conta, era maravilhoso demais para conseguir esperar até chegar à Sky Station. Chegando em Abisko a visão era magnífica, a bela Aurora tão forte em cores verde e rosa, que visão fascinante… A Sky Station fecharia em 15 minutos, portanto não conseguimos subir a montanha, mas ainda sim a visão era perfeita, indescritível. Após um tempo passeando pelo parque, guiados pela intensa luz da lua, era madrugada e precisávamos voltar para o hotel.
Na volta, assim como na ida, nenhum carro na estrada. Vez ou outra um caminhão passava – curiosamente, tinham uma luz forte no topo, portanto víamos sua chegada a uma longa distância – mas éramos apenas nós 4, a exaustão estampada no nosso corpo, a felicidade em nossos lábios e a fascinação refletida por aquele verde em nossos olhos. Éramos apenas nós, no extremo norte do mundo, sozinhos naquele frio extremo beirando o insuportável entre um lago, várias montanhas e sobre nossas cabeças a bailarina verde dançava um de seus últimos atos. Éramos o Dois +1 +1 e um objetivo em comum alcançado.
O silêncio na volta, talvez pelo cansaço, talvez cada um afundado em seus pensamentos… A viagem foi árdua, a caçada complicada e extremamente emocionante. Queria minha família ali, meus amigos comigo, queria que cada um dos que acompanha a viagem desde o começo estivesse lá conosco. Era muita beleza e emoção para guardar apenas para nós, no meio do nada. Que mundo maravilhoso vivemos! Por que ficar eternamente parados no mesmo lugar enquanto há tanto a se desbravar? Quantos fenômenos naturais, paisagens e pessoas aguardam o momento de nos conhecer? Somos tão pequenos debaixo desse céu imponente e majestoso, quantas aventuras nos aguardam? Queria que todos pudessem sentir o que sentimos…
Chegamos em Kiruna exaustos, cada um no seu quarto. Dormiríamos o melhor dos sonos, embalados pelo sonho que virou realidade.
Dia seguinte, cara de satisfeitos, hora de explorar Kiruna… Uma passeada pela cidade, a visita ao Ice Hotel, um hotel todo de gelo. Tínhamos a opção de continuar mais um dia na cidade ou voltar. Estava cansada, mãos queimadas pelo gelo, o frio era intenso e meu corpo já dava sinais de que iria não iria resistir saudavelmente a mais um dia ali, era hora de respeitar meus limites. No fim do dia eu e Tânia pegamos o trem de volta para a civilização, o Neto e o Gui resolveram ficar e continuar a caçada em cima da montanha de Abisko…
Na volta para Estocolmo, o silêncio de estar sozinha em uma cabine por 27 horas e muito tempo para pensar, divagar… Bom, é hora de deixar um legado, talvez não um filho, mas fotos, emoções e muita história para contar.
2 respostas em “A caçada, a dança e o legado [parte 2]”
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Olá
Sabe que lendo seu post, fui sentindo primeiro no inicio pareceu-me um conto, tão bem escrito é, depois as sensações de surpresa, admiração pelos fenômenos e imagens, o cansaço, a busca, o silêncio …
Sinceramente? incrível jornada, você conseguiu captar minha atenção do começo ao fim.
Grande abraço e muitas viagens