Pixie-pixie, lepo-lepo e gole-gole

Copenhagen, 11 de Janeiro.

Resolvemos passar uns dias em Copenhagen. Já no primeiro fomos maravilhosamente recepcionados por nossa couchsurfer (conterrânea e amiga) Wendy que com a voz mais doce e o sorriso mais sincero nos recebeu de braços abertos em seu apê super fofo. Conhecemos sua roomie Marina – outra fofa, com o melhor papo do mundo – que já foi dando logo uma Tuborg e nos deixando à vontade.

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Gui e dois dinamarqueses random
Gui e dois dinamarqueses random

Papo vai, papo vem, playlist boa tocando ao fundo e depois de um intercâmbio de impressões sobre a cultura dinamarquesa o Neto tava mesmo era afim de recordar suas raízes norte-mineiras e já desembainhou de sua mochila sua arma de defesa contra qualquer mal: uma garrafa de cachaça Seleta, de Salinas.


Com nossas couchsurfers há quase um ano sem visitar as bandas daí, logo se bandearam para as de cá e dá-lhe cachaça em todo mundo! Frio intenso, música animada, conversa legal e a Seleta rolando suave entre nós, selando a Confraria do Pequi. Eis que a Wendy nos convoca para o Café Bopa, lugar legal, bem frequentado e com poucos estrangeiros – perfeito para os três viajantes afim de conhecer mais a cultura nórdica. Marquei com um amigo finlandês de nos encontrar às 20:00, mas nossa pontualidade (cachaçada) brasileira não contribuiu muito, chegamos às 22:00 com o local lotado. Tudo bem, tudo bem, vamos para o Pixie-Pixie que é exatamente ao lado…
… mas peraí, eu já conhecia o Pixie-Pixie de outros carnavais, ou melhor, de outros réveillons!

Não parecia o mesmo lugar. Onde estavam todos aqueles dinamarqueses animados na pista de dança e todo mundo se abraçando como havia sido no Réveillon? Que decepção. O bar continuava bonitinho, as pessoas também continuavam lindas – aliás, existe gente feia na Dinamarca? – mas faltava algo… Todos sentados, ninguém se entrosava e apenas o Gui sozinho na pista de dança no melhor “dancing like no one’s watching”.

Enquanto isso eu conversava com o Matias – nome mais comum que “João” no Brasil – que me ensinava a brindar em finlandês e a gente trocava figurinhas sobre a diferença entre nossos países com aquele em que estávamos. Outra decepção: a Marina logo arregou e foi embora. Bom, a Wendy apostava em uns passos tímidos na pista. Assim como visita indo pela primeira vez na casa do anfitrião, a brasileirada tava toda ali borocoxô.

Então, sem que ninguém percebesse, Neto, nosso eterno diplomata, político e conciliador entre nações, tirou de sua mochila de fotografia uma nova garrafa de Seleta. Se não bastasse, tirou também um copinho tradicional de tomar dose – shot é pra coxinha.

Neto, tá louco?
Tô não moça, tô querendo ver esse povo feliz também, uma Seletinha só não faz mal a nenhum dinamarquês acostumado com Snaps (bebida dinamarquesa fortíssima, à base de batata).
E quem vai ser o louco a querer tomar bebida oferecida por um estranho com cara de árabe terrorista como você?
Vai sim moça, vai sim…

E assim começou sua missão diplomática ao redor daquele bar/balada. Começou pelo Matias, que acredito ter sido sua primeira cobaia e que fez uma cara tão ruim que achei que no próximo a tomar seríamos expulsos dali… Mas não é que o Matias gostou?

“O segredo de beber cachaça sem fazer cara ruim é deixar a bebida descansar na língua um tempo, sente o gosto e só depois que você joga na goela”, falava o Neto para o 27˚ dinamarquês que confiava seu paladar àquele estrangeiro.

O clima já estava mudando… O Gui, que incrivelmente estava falando um inglês digno – a bebida entra, a língua estrangeira sai – foi todo malemolente até o DJ e pediu uma música brasileira. Não tinha. Na falta dela, Gui entrega seu iPhone para o DJ e avisa em alto e bom som “TOCA ESSA AÍ DJ QUE É A MÚSICA DO CARNAVAL 2014”, e foi só acabar o Michael Jackson que entra o tal do LEPO-LEPO do Guilherme. Todo mundo no bar se entreolhando, Neto embebedando a galera e Wendy seguindo os passos do Gui na pista. Enquanto isso eu pedia desculpas pro Matias pelo excesso dos meus amigos, achando que os olhares que vinham das mesas eram de desaprovação, enorme engano.

Não sei se já era a cachaça ou apenas alegria, mas o Gui (e a Wendy) foi tomado pelo ritmo da Ragatanga no meio da pista, ou melhor, ritmo do Lepo-Lepo e se contorcia como um bailarino da Ivete Sangalo… No fim do show, todo mundo levantou e veio ao nosso encontro querendo o nome da música, pedindo que ensinássemos a coreografia. Mas nessa altura a próxima atração estava apenas por começar…

Uma vez em pé, nenhum dos fãs voltou a sentar. Estávamos então rodeados de uma legião de nórdicos mais pra lá do que pra cá dançando sem parar enquanto nosso então promovido Cônsul da Caninha terminava de distribuir as últimas gotas de Seleta para uma turma de Portugueses.

O resto? Não lembro. Tenho flashes de um sueco mala pra caramba abraçando e dando beijo no rosto de todo mundo na balada; dos lusitanos ouvindo piada de português e achando graça, do Matias ter ficado sorridente, de umas dinamarquesas super desengonçadas dançando ridiculamente na pista, de dois dinamarqueses que toda vez que o DJ tocava uma nova música eles me perguntavam qual era, de achar o Gui na porta da festa sem qualquer roupa de frio conversando lindamente em inglês sobre fotografia com uma turma de dinamarquês, da Wendy conversando com uma turma legal, de um cara cair e quebrar a cadeira, do Neto discursando entre várias rodas de dinamarqueses.

Acordei no outro dia com uma ressaca maior que toda a extensão da terra, um sorriso no rosto, um breve post no Dois +1 na Trip e com uma garrafa de cachaça vazia na minha bolsa pra (tentar) contar historia.

#Camila

Por Camila Oliveira

Camila gosta de viajar, conhecer lugares e pessoas, ouvir música, sentir aromas, degustar sabores, saborear a vida. Não quer criar raízes, pois sabe onde é o seu lugar: o mundo

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